Entre a Tradição e a Modernidade: A luta das Mulheres Angolanas
- Elsa Mbumba
- 21 de ago. de 2024
- 2 min de leitura
Atualizado: 22 de ago. de 2024

É inegável que Angola é, na sua origem, uma sociedade matriarcal, com uma longa tradição de poder feminino. O nosso país, assim como outros países africanos, ergueu-se sobre a força e o trabalho árduo de mulheres que lutaram dentro e fora de casa para erguer e suster vidas, famílias e comunidades.
Também é verdade que a influência da globalização, trouxe novas formas de ser e estar para mulheres e homens, mudou a forma como a sociedade, pelo menos no seu casco urbano, se comporta, se revê e educa os seus filhos.
Sou frequentemente questionada se, com base na realidade de que estamos numa sociedade matriarcal, as lutas do movimento feminista que promovem direitos equitativos entre homens e mulheres fazem sentido no nosso contexto.
Ora vejamos: actualmente, o feminismo promove o acesso à saúde, educação e sororidade entre mulheres, e luta contra a desigualdade salarial, violência de género, sexismo e misoginia, falta de representatividade feminina em cargos de liderança, desigualdade de género no trabalho e emprego, entre outros temas. Embora Angola possua uma herança matriarcal, as desigualdades de gênero ainda persistem em muitos aspectos da vida quotidiana. A luta por direitos iguais é, portanto, não só pertinente como necessária.
O feminismo, no nosso contexto, pode ser visto como um movimento de transformação que “preserva o que há de positivo na herança matriarcal”, mas também a expande e adapta às exigências de uma sociedade equitativa.
Em Angola, as mulheres enfrentam desafios específicos que se sobrepõem à desigualdade de género global. A violência doméstica, por exemplo, continua a ser uma questão grave e, muitas vezes, subnotificada, devido ao estigma e à falta de suporte institucional.
O acesso a cuidados de saúde de qualidade é limitado e afecta desproporcionalmente mulheres e crianças, assim como o acesso desigual à educação e oportunidades de emprego, o que resulta numa maior dificuldade para aceder a empregos formais e perpetua ciclos de pobreza e dependência económica.
No mercado de trabalho, as mulheres sofrem com segregação ocupacional, desigualdade salarial, e embora desempenhem papéis centrais nas suas famílias e comunidades, experienciam discriminação por sexismo, etarismo, maternidade, trabalho doméstico, além de assédio moral e sexual.
A luta pela igualdade de direitos entre homens e mulheres em Angola envolve não só a adaptação de princípios globais de justiça social à realidade local, mas também uma valorização da tradição local e o fortalecimento de estruturas que não somente reconheçam e valorizem, mas apoiem a contribuição feminina a todos os níveis da sociedade.
Apesar de ser verdade que muitas mulheres angolanas ocupam cargos de direção, liderança e até mesmo posições políticas de destaque, a luta pelos direitos femininos continua essencial. A presença de mulheres nestas posições não apaga a mentalidade enraizada que tende a diminuir, menosprezar e desconsiderar o trabalho, dificuldades e capacidades das mulheres. Esta mentalidade, muitas vezes invisível e subtil, perpetua a descriminação de género e necessita ser confrontada.
É crucial que a sociedade angolana, ao mesmo tempo que celebra os avanços e conquistas das mulheres, continue a promover mudanças estruturais e culturais. A verdadeira transformação só ocorrerá quando cada mulher, independentemente do seu papel ou posição, for reconhecida e respeitada pela sua contribuição indispensável para a sociedade.